Tensões Geopolíticas e riscos sistêmicos: Trump, Ucrânia e os efeitos no mercado.
No último domingo (25), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a se manifestar de forma contundente sobre o conflito no leste europeu, criticando simultaneamente os três principais protagonistas da guerra: Vladimir Putin, Volodymyr Zelenski e Joe Biden. A declaração veio em meio a uma escalada de bombardeios em Kiev, considerada pelas autoridades ucranianas como a mais intensa desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022.
Trump declarou que Putin “ficou completamente louco”, afirmando que os ataques com mísseis e drones contra cidades ucranianas estão matando civis “sem qualquer motivo”. Segundo o republicano, o presidente russo quer “conquistar toda a Ucrânia” e isso “levará à queda da Rússia”. O posicionamento agressivo não poupou nem Zelenski, a quem Trump acusou de estar “causando problemas com tudo que fala”, e tampouco o ex-presidente Joe Biden, a quem responsabilizou por “grandes e horríveis incêndios” políticos e diplomáticos que “nunca teriam começado” sob sua gestão.
Apesar da retórica beligerante, Trump se coloca como figura conciliadora, dizendo tentar restaurar a paz por meio de negociações. Na semana passada, ele anunciou um telefonema com Putin, alegando que haveria tratativas de cessar-fogo “imediatas” — o que, segundo o Kremlin, ainda não se concretizou.
Análise Fundamentalista: Como isso impacta o investidor?
A guerra na Ucrânia vem sendo um catalisador geopolítico que influencia não apenas o mercado de energia, mas também cadeias globais de suprimento, fluxo de capitais e percepção de risco sistêmico. Diante da nova rodada de declarações de Trump e da intensificação dos ataques russos, é necessário observar os possíveis reflexos estruturais para os ativos de renda variável:
1. Petróleo e Energia
Conflitos militares envolvendo grandes produtores ou rotas estratégicas aumentam a volatilidade nos preços do petróleo.
Empresas de petróleo (como Petrobras, 3R Petroleum, PRIO) tendem a se beneficiar com valorização do Brent, mas a imprevisibilidade política exige atenção redobrada à governança e à sustentabilidade do caixa.
2. Commodities Agrícolas e Fertilizantes
A Ucrânia é importante produtora de grãos e insumos. Uma escalada do conflito pode pressionar preços internacionais e beneficiar empresas brasileiras do agro, como SLC Agrícola, Boa Safra e Mosaic Fertilizantes (via CVM pela CMOC Brasil).
Contudo, oscilações abruptas no preço dos fertilizantes ou grãos exigem que o investidor avalie a capacidade da empresa de repassar custos sem perda de margem.
3. Defesa e Logística
Aumento das tensões pode reavivar discussões sobre investimentos em defesa e infraestrutura crítica.
Empresas como Embraer, que têm braço na aviação militar, podem captar oportunidades de exportação, dependendo da estabilidade contratual e da agenda internacional.
4. Percepção de Risco Global
A instabilidade política entre líderes das maiores potências pode gerar fuga temporária de capital dos mercados emergentes.
Esse tipo de evento reforça a importância de investir em empresas sólidas, com endividamento controlado, governança robusta e geração de caixa consistente.
5. Reflexo Cambial e Juros
Um agravamento do conflito pode provocar valorização do dólar como ativo de proteção, pressionando moedas emergentes, inclusive o real.
Isso tende a impactar importadoras e empresas com alto custo em dólar, ao passo que favorece exportadoras com margem em dólar.
Conclusão: o que o investidor precisa saber.
O mercado financeiro responde a ruídos políticos com volatilidade, mas quem investe com base em fundamentos deve focar no essencial: empresas lucrativas, previsíveis e resilientes. A guerra na Ucrânia não é novidade, mas sua escalada reabre discussões sobre risco geopolítico, especialmente com Trump inserindo-se diretamente na narrativa diplomática global.
O investidor atento deve monitorar não apenas o conflito em si, mas principalmente as decisões comerciais, tarifárias e militares que dele derivam. O preço do petróleo, o fluxo cambial e a dinâmica de commodities continuarão sendo os principais vetores de impacto na Bolsa brasileira.

Josemar Segundo
Capitão de Renda Variável Mowe XP.
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